quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ela.

“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Vver é sofrer... Sofrer é viver.

São 3 da manhã e a insônia me faz companhia. Tento entender tudo o que vem acontecendo na minha vida, encontrar respostas  que satisfaçam minhas perguntas.. mas minha  mente é um redemoinho. Penso em você, minha Sabina. Por que não me quer? Por que não entende que  você é somente a minha necessidade? E é tão estranho, porque antes de romper com o peso, eu já sentia um pressagio da leveza. No fundo, em algum lugar onde se esconde o destino, eu já sabia que nossos destinos se cruzariam. E sem saber como ou quando, eu já acreditava que aqueles lábios iriam encontrar os meus. Assim, fui guiando meus passos, com a certeza de que o relógio era meu inimigo e que cada momento a mais de vida era um prazer a menos que desfrutávamos. Paixão. Obsessão. Carência. Compulsão. Sede.  Uma espécie de desejar que não se vá, não agora, pois o futuro é certo demais pra que eu deixe que você bata a porta. Você foi exatamente o que eu precisava pra saciar uma sede afetiva que há muito tempo me secava a garganta. Uma sede da leveza, da ausência do peso da rotina, do compromisso e da obrigação. E assim te amei, sabendo que você desempenhava o papel certo para um amor de verão, um amor que olhamos nos olhos e sabemos que jamais acordaremos ao lado, nem dividiremos segredos. Jamais você saberá minhas manias e minha vida. Jamais você terá a oportunidade de me amar pelo que sou, sabendo quem sou. Você nunca me defenderá nem me amará pelos obstáculos  que superei, pela mulher que me tornei, sequer pela que ainda espero  ser. Porque você nem sabe quem sou. Você não amará a maneira como olho fundo nos olhos, o modo como mexo no meu cabelo quando me sinto constrangida ou como ando com o pé direito levemente torto pra dentro. Não poderei te contar minhas angustias, meus medos e minhas certezas. E ate poderei te revelar, mas não serei compreendida com a sensibilidade de um ouvinte que ama seu interlocutor. Não receberei de ti o abraço protetor, o beijo tranqüilizador ou o olhar de devoção.  E pior que a certeza da impossibilidade de saciar esses desejos causados pelo descontrole dos sentimentos, é saber que mesmo tendo agido com essa certeza, eu me sabotei. Eu burlei as regras de uma relação que não poderia ter extrapolado. Por que você não se afastou no quinto encontro? Teria ficado na sua lembrança a mulher que havia estipulado seu prazo na minha vida. E se me perguntares qual imagem minha eu desejo que tu imagines, sinceramente não sei, pois sei que hoje sou apenas uma estrada da minha própria personalidade. Um caminho por onde passam comportamentos, pensamentos e certezas incompatíveis e complementares, uma rajada de emoções e atitudes tão efusivas quanto instáveis.  Você foi o conveniente pra mim naquele momento e eu tenho sido o indesejado pra você. Como a paixão é uma contradição!  Só queria ter te dado o melhor pra que você pudesse ter me amado. O melhor que inverteria a lógica do destino. Mas seria burlar um código temporário de moral que eu invoquei somente para que eu me permitisse viver tudo isso. Pois desde o momento em que soube que queria viver algo do teu lado, do lado daquele fantasma que pairava sobre a duvida e a curiosidade, eu sabia.. sabia que você seria uma mera aparição, parte de uma cena que passa e que logo sairia da minha vida pra se dissolver na existência do passado.  E só havia essa certeza porque fui honesta o bastante comigo mesma para saber que, assim como Eva nasceu de uma costela de adão, você nasceu de uma sede afetiva. E como agora é possível que essa sede afetiva seja toda a sua essência e de toda a minha fantasia sobre você? Nas suas veias não circulam sangue, nelas escorre um alimento pra minha sede e minha curiosidade. Nelas escorre o afeto necessário pra preencher esse meu vazio metafísico. E eu não amo alguém de verdade, eu amo uma construção da minha necessidade. E sempre amarei essa idéia, sendo eterno esse amor enquanto dure meu desejo não realizado. O meu amor é proporcional ao ódio por ter me permitido ser desestabilizada. Eu poderia ter evitado isso.  Poderia não ter me permitido andar por caminhos tão instáveis, dando passos tão trêmulos através de um chão desconhecido. Mas me pergunto: De que adiantaria a vida, se eu tivesse que me negar a sentir o sangue correr pelas veias? A vida nada mais é que o respirar, o sentir, o pensar. E me negar a respirar fundo quando ouço teu nome, a sentir o frio na barriga quando vou te ver e pensar em tudo o que a paixão envolve seria uma vida não vivida. Uma ausência de vida na minha existência. Uma existência sem a certeza de existir. Não se permitir a viver o amor e a sua dor, é se poupar de sentir o que nos faz humanos. Sim, porque o sofrimento é injustamente demonizado, já que ele nada mais é que a poesia da existência de um ser que se permite. O sofrimento é o rebote de quem arrisca e senti-lo é quase que como uma recompensa por ter tido instantes de gozo. Semanas de tormento, por segundos de paz. Troca injusta?  Eu prefiro acreditar que não, pois uma boa lagrima derramada é um belo preço a se pagar pela certeza de se estar viva e de se estar aproveitando esse conturbado intervalo de existência entre o nada e... o nada.